“Desde que cheguei ao Brasil, tenho aprendido que devemos ser ambiciosas, corajosas, ter espírito empreendedor e não precisar depender de ninguém. Este tipo de iniciativa faz com que tenhamos muitos sonhos e nos interessemos ainda mais pelo mundo empreendedor. Foi um dia maravilhoso para mim!” Brenda Cibisa Siwapi
Brenda nasceu na África do Sul, chegou ao Brasil em agosto de 2015 e desde então estuda português e freqüenta cursos de capacitação que possam ajudá-la a colocar seus planos em prática. No dia 23 de maio de 2016, ela e outras 19 mulheres, vindas da África e do Oriente Médio, foram recebidas pelo Instituto Consulado da Mulher no Centro Administrativo da Whirlpool em São Paulo.
Estas mulheres participaram do terceiro workshop do projeto “Empoderando Refugiadas”, promovido em parceria com Rede Brasil do Pacto Global, Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres, Cáritas São Paulo, Fox Time e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). Durante todo o dia, educadores do Consulado, e representantes de entidades e empresas parceiras, compartilharam dicas e orientações sobre como abrir e manter pequenos negócios – especialmente na área da alimentação.
As apresentações falaram sobre empreendedorismo e o empoderamento feminino de forma bastante prática. Rachel Monteiro, analista de sênior de branding da Consul, por exemplo, falou sobre “Como utilizar as redes sociais como uma ferramenta positiva”.
“Atualmente, o Brasil conta com cerca de 9 mil pessoas reconhecidas como refugiadas. Muitas delas são mulheres que deixam seus países de origem devido à violência e violação de seus direitos. Buscamos sempre entidades que possam somar à causa e nos auxiliar a promover os direitos humanos”, esclarece Vanessa Tarantini, responsável pelas parcerias e engajamento da Rede Brasil do Pacto da ONU, organização que reuniu todas as entidades envolvidas nesta ação.
São consideradas refugiadas as pessoas forçadas a deixar seus lares e até mesmo seus países por causa de conflitos e de perseguições políticas, étnicas ou religiosas. Dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) mostram 19,2% dos solicitantes de refúgio no Brasil são do sexo feminino, o que equivaleu a 15,9 mil mulheres. Já entre os que foram reconhecidos como 8.493 refugiados até o final de 2015, 28,2% – ou 1.273 – são mulheres.
Para mulheres que vivem em situações de crise, como é o caso de boa parte das refugiadas no Brasil, a possibilidade de começar o seu próprio negócio significa muito mais do que um novo caminho profissional. Como ressalta Leda Böger, diretora-executiva do Instituto Consulado da Mulher, “o empreendedorismo é uma oportunidade para que estas mulheres consigam ingressar ou retornar ao mercado de trabalho, garantindo renda e dignidade para si e para seus familiares”.
Buscando inspirar e encorajar as refugiadas, o Consulado da Mulher também levou algumas das empreendedoras já assessoradas pelo Instituto para contar suas histórias. São casos concretos que serviram como exemplos para as mulheres que hoje buscam recomeçar suas vidas em nosso país.
“Muitos dos empreendimentos coletivos ou individuais que apoiamos são compostos por mulheres que têm um perfil semelhante ao das refugiadas. Mesmo em seu país natal, vivem em situações precárias, têm problemas financeiros, mais de três filhos, educação básica ou incompleta e, não raro, sofrem pela desigualdade de gênero e imposição da força física de parceiros”, lembra Leda Böger.
Não estamos sozinhos
“Estou aprendendo muito sobre organização e como rentabilizar meu empreendimento. Agora, estou na fase de estruturação. Quero continuar me qualificando para crescer e ajudar cada vez mais refugiadas” Nadia Ferreira, de Guiné-Bissau.
Além do Consulado da Mulher, e das outras organizações envolvidas no evento, conhecemos a Anin Magá (que significa mulher guerreira no idioma Balanta), iniciativa de Nadia Ferreira para assessorar empresas que querem contratar refugiadas e imigrantes.
Natural da Guiné-Bissau, Nádia vive no Brasil há 15 anos, é Delegada Nacional de Políticas para Mulheres e Facilitadora da Secretaria da Saúde do Imigrante. Ela trabalhou como cabeleireira e atendente para pagar seus estudos e sustentar sua filha e certa vez, ao abrigar em sua casa duas mulheres que não tinham onde ficar, Nádia descobriu o sonho de ampliar suas ações e criar a ONG.
O Consulado da Mulher oferecerá assessoria sobre gestão de negócios e sobre outros desafios para as refugiadas que vierem a abrir suas MEIs, assim como fez com a empresa Lee & Maga e com outras iniciativas de brasileiras de baixa renda, conforme informou Érica Zanotti, coordenadora de Desenvolvimento de Programas Sociais do Consulado da Mulher.
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