Na terra onde brotei não pude criar raízes.
Sou de Iguatu, no centro-sul do Ceará, um lugar onde ter a terra só não é mais difícil do que fazer algo germinar. A chuva que não vinha tornava o serviço duro demais e a sobrevivência, um desafio que beirava o impossível. Meus pais desistiram daquela luta para iniciar uma outra. Entraram com os quatro filhos em um ônibus com destino a São Paulo, em busca de uma nova vida.
Da viagem nunca me esqueci: duas noites e três dias de estrada, num ônibus lotado de gente desconhecida com os mesmos sonhos na bagagem. Uma jornada que começou com farra e esperança e demorou muito, muito para terminar. Quando chegamos nos instalamos no Jardim Primavera, bairro da zona sul da capital paulista. Árvores imensas esverdeavam a paisagem, resquícios das antigas fazendas que um dia cercaram a cidade.
Naquele pedaço de minha infância, São Paulo não era cinza. Era frequente termos lagartas perambulando pela casa, pela vizinhança. Era comum que alguém gritasse com medo de um bichinho tão inofensivo. A feiura assusta, alardeavam alguns. Para mim, ver as lagartas se arrastando, se enclausurando no casulo, no seu tempo, na sua hora, era mágico.
Passava os dias a observar, em silêncio, o silêncio sábio dos insetos. Semanas depois, um movimento surgia para revelar as belas asas de uma borboleta. As amarelas eram as minhas preferidas.
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