“Diálogo sobre novas economias”: diferentes visões sobre novas formas de trabalho, riqueza e sustentabilidade

“Diálogo sobre novas economias”: diferentes visões sobre novas formas de trabalho, riqueza e sustentabilidade

Evento trouxe debates sobre a necessidade de construir uma economia mais justa e humana.

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(Confira as fotos do evento em nosso Facebook, clicando aqui)

No dia 8 de março, dia internacional da mulher, o Salão Nobre da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo foi palco do seminário “Diálogo sobre novas economias: Trabalho, Riqueza e Sustentabilidade”, promovido pelo Consulado da Mulher e a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares Fundação Getúlio Vargas (ITCP-FGV).

Debates sobre os rumos da economia atual e questões de gênero no mercado de trabalho foram os principais temas do evento, que além de receber palestras e especialistas, também abriu espaço para que os participantes se sentassem em roda junto aos palestrantes para expor seus pensamentos e impressões sobre os assuntos abordados.

Responsável pela realização do coffee break e do brunch do seminário, a Rede de Alimentação União dos Sabores Solidários, composta por 50 mulheres de 9 empreendimentos assessorados pelo Consulado da Mulher, foi apresentada como um exemplo de autogestão e economia solidária. Localizados em comunidades periféricas da Baixada Santista, ABC Paulista e grande São Paulo, os grupos da rede compartilham conhecimentos com o objetivo de aperfeiçoar os serviços na área de alimentação que realizam em suas localidades.

Primeiro bloco

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 Depois das apresentações do Consulado da Mulher e da ITCP-FGV, a psicóloga e antropóloga Susan Andrews subiu ao palco para falar da Felicidade Interna Bruta (FIB), índice criado no reino de Butão, situado na Ásia, e hoje utilizado por diversos países, que ao invés de considerar avanços econômicos para avaliar o desenvolvimento de um país, usa outros 9 indicadores: gestão de tempo, sustentabilidade, cultura, boa governança, educação de qualidade, bem estar psicológico, meio ambiente, saúde, vitalidade comunitária.

Em seus slides, Susan, que é americana, chamou atenção para o caso dos Estados Unidos, onde a renda per capita da população cresceu 3 vezes entre 1946 e 1996, mas os índices de felicidade passaram a cair a partir de 1956. “Um em cada quatro americanos é deprimido, ainda que a riqueza tenha aumentado”, afirmou. Segundo ela, o trabalho cooperativo traz mais felicidade que a geração de renda. Segundo ela, recursos financeiros só estão diretamente relacionados à felicidade do ser humano enquanto estão suprindo as necessidades básicas e trazendo alguns poucos luxos, acima disso, estudos mostram que quando aumenta o PIB per capta, a felicidade diminui.

Em seguida, Júlio Borges, representante do Instituto Cultural Rose Marie Muraro leu uma carta escrita pela escritora feminista Rose Marie Muraro sobre os temas abordados em seu último livro, “Reinventando o Capital/Dinheiro”. Na obra, a autora fala sobre três paradigmas inventados pela economista Hazel Henderson: o ganha-ganha (sistema econômico vigente na Pré-História, considerado mais ‘humano’, onde o dinheiro não gerava juros), o ganha-perde (sistema econômico considerado ‘destrutivo’ em que a geração de juros eleva os níveis de desigualdade social e violência) e a caminhada para um novo ganha-ganha, em que o conhecimento e a informação gratuita disseminados pelos avanços tecnológicos impediriam que o dinheiro gerasse juros o que, consequentemente, diminuiria os índices de desigualdade socioeconômica.

Finalizando o primeiro bloco de debates, a especialista em economia criativa e desenvolvimento sustentável, Lala Deheizelin, afirmou que o medo impede que muitas pessoas apostem em iniciativas criativas de geração de renda. Segundo ela, uma nova economia – chamada criativa ou da abundância – é possível, a partir de conceitos intangíveis como cultura e conhecimento “que não se esgotam, como o ouro e petróleo, mas se multiplicam”. Em entrevista à TV Brasil, ela falou sobre sua participação no evento. (assista ao vídeo)

Tanto Lala quanto Júlio defenderam que, para que uma nova economia seja implementada, os modelos de gestão devem ser “femininos”, ou seja, pautados em conceitos como cuidado e integridade. Ambos os palestrantes consideraram o modelo atual como masculino, sendo extremamente competitivo e dominador, o que tem gerado crises e desigualdade social.

Segundo bloco

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O segundo bloco focou na troca de experiências empíricas de Economia Solidária e Criativa. Apresentaram-se representantes do Bando de Negócios (BNI) Inclusivos da FGV, do Circuito Fora do Eixo e da União dos Sabores Solidários, assessorada pelo Consulado da Mulher.

O BNI tem como foco o empréstimo de pequenas quantias de dinheiro – microcrédito – para pessoas em situação de vulnerabilidade para que possam iniciar ou ampliar um negócio.

Já o Circuito Fora do Eixo começou como uma rede entre produtores culturais de regiões localizadas “fora do eixo Rio-São Paulo” (Mato Grosso, Acre, Minas Gerais e Paraná) com o objetivo de estimular a circulação e o trabalho de artistas musicais independentes e a troca de tecnologias e experiências entre as localidades envolvidas. Atualmente, o Circuito tem sede em 25, das 27 unidades federativas do Brasil.

Ambos apresentaram as experiências utilizando moedas sociais em comunidades inteiras ou grupos de pessoas com um interesse comum. Moedas estas que não têm juros ou controle bancário e têm seu valor calculado na base de troca. Por exemplo, a Casa Fora do Eixo têm membros com diversas habilidades e podem trocar uma consulta ao dentista por um tempo num estúdio de gravação ou por assistir um concerto.

Dando voz à Rede de Alimentação União dos Sabores Solidários, a empreendedora Juracy da Silva compartilhou suas experiências à frente do Ambrosia Doces e Saúde e a troca de aprendizado de seu grupo com os outros 8 empreendimentos especializados em alimentação que compõem a rede. “Na economia solidária, não existe patrão nem empregado. Todo mundo tem a mesma responsabilidade sobre aquilo que faz”, afirmou Dona Jura, como é mais conhecida na comunidade de Heliópolis (SP).

Se antes ela não sabia “bater um bolo para os filhos”, agora a empreendedora é responsável por oferecer serviços de alimentação para festas e eventos corporativos. Receitas de bolos caseiros, sanduíches, quiches e outros quitutes são trocadas entre os grupos da rede, que aumentam sua geração de renda ao mesmo tempo em que veem sua qualidade de vida aumentar, já que trabalham em horários flexíveis e aprendem conceitos de nutrição e higiene alimentar.

“Em rede há ajuda, apoio e incentivo. Se um grupo não tem talher, o outro empresta. Se um grupo precisa de uma receita, o outro dá”, explica. Sobre ter vivido na cidade de São Caetano do Sul, cidade cujo IDH é considerado de “primeiro mundo”, Dona Jura foi enfática: “Gostava de morar lá, mas sentia uma frieza entre as pessoas. Não trocaria minhas vivências de cooperação na comunidade para morar em uma cidade de primeiro mundo”.

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Para contratar os serviços da Rede de Alimentação União dos Sabores Solidários, ligue para (11) 3566-1483 ou mande um e-mail para uniaodossaboressolidarios@gmail.com