“Viver do artesanato em São Paulo é uma verdadeira arte”

“Viver do artesanato em São Paulo é uma verdadeira arte”

Empreendedora popular descreve trajetória para abrir seu próprio negócio, destacando a importância de compartilhar aprendizados com outras pessoas. 


 

A paulistana Lilian Galhardo Ferri, de 46 anos, faz parte dos 8,5 milhões de brasileiros que vivem do artesanato. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50 bilhões de reais são movimentados anualmente por esses profissionais.

Apesar de nem sempre ter sido movida pela arte, a história de Lilian sempre foi baseada no improviso: depois de ser demitida do cargo de assistente administrativa de uma concessionária, a artesã trabalhou, simultaneamente, como diarista, cabeleireira, manicure e pedicure para garantir o sustento de sua família.

Desiludida com o mercado formal, que busca profissionais mais jovens e condicionados a novas exigências e demandas, a paulistana passou a seguir os passos de sua mãe, que na infância também produzia peças artesanais para gerar renda.

Apesar de ter iniciado sua nova carreira em 2002, foi apenas em 2008, em um evento realizado na zona leste de São Paulo, que a artesã conheceu o Consulado da Mulher e tornou-se assessorada. “Quando conheci o Consulado já ministrava oficinas de artesanato em uma associação, mas ainda não tinha muita formação”, conta.

Lilian destaca que adquiriu mais conhecimentos sobre empreendedorismo ao participar de um curso ministrado pela rede de desenvolvimento social Design Possível . Durante a capacitação, que durou 8 meses, ela aprendeu a criar e precificar produtos, além de conhecer a importância de identificar públicos-alvos e criar briefings – documento que auxilia profissionais de diversas áreas a resolverem problemas, criarem oportunidades durante crises e planejarem ações futuras em seus negócios.

Os ensinamentos foram essenciais para a criação de seu próprio empreendimento, o “Koisas da Arte”. Apesar de ter sido emancipada do Consulado da Mulher, Lilian está atualmente em processo de consultoria. Isso significa que as visitas dos educadores sociais só acontecem quando a empreendedora solicita auxílio em alguma necessidade do empreendimento.

Quando questionada sobre as dificuldades da profissão, a artesã é enfática: “viver do artesanato em São Paulo é uma verdadeira arte”. Ela justifica que na capital paulista a concorrência com produtos importados é desleal e que muitos artesãos se desvalorizam ao venderem seus produtos a preços mais baixos do que realmente custam.

Versátil na produção de suas peças, Lilian utiliza – e reutiliza – materiais como fitas, fios de várias texturas, feltro, tecidos e aviamentos. “Aprendi com o Consulado sobre a importância de ser sustentável”, explica.  Em 2011, a artesã se formalizou e hoje já comercializa seus produtos com nota fiscal. Como pessoa jurídica, Lilian abre um leque de possibilidades ao seu empreendimento, além de garantir direitos trabalhistas importantes para o seu futuro e o de sua família.

De assessorada para educadora social

O conhecimento adquirido durante a assessoria do Consulado da Mulher contribuiu também para realizar um desejo antigo da artesã: “Sempre tive um sonho de trabalhar com projetos sociais, formar grupos para geração de renda”, conta.

Em 2012, Lilian foi indicada para trabalhar como oficineira no Centro Social Marista Cesmar, que oferece projetos e programas sociais para pessoas em vulnerabilidade social. A dedicação ao trabalho foi tamanha, que ela logo se tornou educadora social.

Segundo a paulistana, novas oportunidades têm surgido com o novo ofício. Um exemplo disso é que, recentemente, ela realizou uma formação em Economia Solidária com o Nesol – Núcleo de Apoio às Atividades de Extensão em Economia Solidária -, fruto de uma parceria do Centro Social com o SENAC e o SESC Itaquera.

Para Lilian, a economia solidária é uma nova forma de enxergar o outro. “Valoriza-se o ser e não o ter. Voltamos aos princípios, resgatamos antigos valores, de moral, de educação e de cultura. Caminhamos com o outro e para o outro quando necessário”, afirma.

Atualmente, a artesã auxilia o “Mãe das Artes”, grupo formado por mães de crianças atendidas pelo Centro Social. As experiências como educadora são retratadas em um blog (http://www.maesdaarte.blogspot.com), onde Lilian posta fotos e detalhes sobre a rotina do grupo.

Koisas da Arte na Internet
http://www.elo7.com.br/koisasdaarte