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Foto do escritorRicardo Xavier

Mulheres & minorias fazem empreendedorismo com propósito nos EUA

Socióloga americana traça perfil de mulheres pertencentes a grupos minoritários que fazem a diferença com negócios inovadores.

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Tradução da matéria “Making millions ignoring the ‘normal way’”, escrita por Karen E. Klein para o Smart Answers

Quando a socióloga Mary Godwyn estava pesquisando dados sobre as mulheres que procuram o Women’s Business Center, uma rede de centros educacionais do governo americano que presta consultoria a microempreendedoras, ela descobriu que minorias e mulheres de baixa renda estavam lançando empresas que faziam mais do que simplesmente gerar lucro para si próprias; elas também estavam entregando benefícios significantes para suas comunidades.

Godwyn, que é professora assistente de sociologia na Babson College em Wellesley, Massachusetts, falou com a colunista Karen Klein da Smart Answers e compartilhou alguns detalhes interessantes sobre o livro em que publicou esta pesquisa reveladora.

Você descobriu que a taxa de mulheres de grupos minoritários que começam negócios nos Estados Unidos é quase 4 vezes maior do que a de mulheres e homens de grupos majoritários. Isto é surpreendente?

Acredito que sim, porque suas histórias raramente são contadas. Nós todos vemos donos de negócios como homens brancos e com alto grau de escolaridade. Até aqui na Babson, em nosso programa de MBA, quase todos os protagonistas de negócios que estudamos em nossos cases são homens brancos.

No Women’s Business Centers, foi criada uma cultura de mulheres empreendedoras. Alçaram as mulheres pertencentes a grupos minoritários como exemplos de sucesso à frente de suas empresas. E quando suas clientes começaram a se imaginar como empreendedoras bem sucedidas, elas se transformaram nisso!

Dados mostram que companhias gerenciadas por mulheres geralmente não crescem tão rapidamente ou não geram tantos lucros como empresas administradas por homens. Você procurou a razão deste fato?

Descobri que mulheres enfrentam mais dificuldades para conseguir capital inicial. Todas que entrevistei confirmaram isso. Então, muito da falta de crescimento que você apontou vem do fato de que não há muito combustível para o fogo.

Outro motivo vem das próprias empreendedoras. É melhor fazer um negócio crescer rapidamente, vende-lo, colher o dinheiro e seguir em frente? É isso que estudantes de negócios são ensinados a fazer.

Muitas das mulheres entrevistas, porém, identificaram seus negócios como um veículo de auto expressão e um meio de atender populações carentes. Na literatura empreendedora, existe algo desencorajador ou ainda desacreditado sobre isso. Você é ensinado a não se apegar muito. Mas estas mulheres pensam sobre implicações maiores que seus negócios podem gerar na comunidade mundial.

No seu livro, você fez o perfil de 10 companhias. Que tipos de negócios você estudou?

Nós procuramos por um grupo diverso de negócios administrados por mulheres que se identificavam como minorias raciais e religiosas. Uma destas minorias é a de portadores de deficiência física. Eles atuam tanto no Legacy Bank, primeiro banco dos EUA organizado por mulheres afro-americanas, como também em pequenas empresas.

Um dos meus estudos preferidos é o do Mannequin Madness, em Oakland, Calif. Sua dona viu manequins sendo jogados em um aterro e descobriu que eles não estavam sendo reciclados. Naquele período, ela estava trabalhando em uma empresa de comercialização digital, mas tinha um desejo muito grande de começar um negócio que tivesse uma proposta ambiental.

Então, ela recicla e aluga manequins e encoraja os consumidores a comprarem  aqueles que não são brancos, magros e jovens. Até mesmo em vizinhanças bastante diversas, ela descobriu que a maioria dos varejistas não considerava usar manequins de cores diferentes ou de tamanhos maiores.


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Judi Henderson-Townsend, dona da Mannequin Madness, empresa americana que recicla mais de 45.000 toneladas de manequins por ano.


Uma das características das empreendedoras que você estudou é a de usar seus negócios para promover algum tipo de bem social.

Sim. Cada uma das mulheres quer fazer dinheiro, porque elas dependem dos negócios para garantir seu sustento e o de suas famílias. Ao mesmo tempo elas são comprometidas com valores sociais.

O que é interessante é que elas não estão sozinhas. Quando você olha para uma quantidade grande de dados de todo o mundo, é possível ver que mulheres empreendedoras usam sua renda mais frequentemente para apoiar os outros, incluindo seus familiares, suas comunidades e causas sociais.

Por que você acha que isso acontece?

Na verdade, ninguém parece ter feito essa pergunta. Esse tipo de empreendedorismo não é bem documentado. Nós temos negócios que geram lucros e empreendimentos sociais, que se assemelham muito a organização sem fins lucrativos, mas essas mulheres se recusam a ter que escolher entre os dois.

Você pode dar um exemplo de alguém que esteja fazendo as duas coisas?

Uma das mulheres retratadas no livro é Pauline Lewis, uma asiático-americana que desenha e manufatura bolsas e é comprometida com a causa de mulheres asiáticas de modo geral. Quando ela procurou por uma fábrica na Ásia para desenvolver as bolsas de sua empresa, a oovvoo design, ela ficou desapontada ao descobrir as pobres condições de trabalho em que os funcionários eram submetidos. Essas companhias eram barulhentas, desorganizadas e não possuíam ventilação de ar adequada. Ela não queria que as pessoas que fabricassem suas bolsas tivessem esse tipo de vida.

Depois disso, ela encontrou um grupo de mulheres que trabalham em uma vizinhança residencial no Vietnã, em uma local administrado por mulheres. A empresa possui creche, música suave e chá.  Ela decidiu que aquele era o local certo para que suas bolsas fossem produzidas. Ela paga a suas trabalhadoras 15% a mais do que o salário vigente, concedendo a cada uma delas férias pagas de uma semana e o direito de não trabalhar durante o feriado do Ano Novo Vietnamita, que dura um mês inteiro. Em escola de negócios, você ouviria que permitir isso é irracional, que não faz sentido, que você vai falir se fizer desse jeito. Todos os dias ela precisa defender suas decisões. Mas ela está fazendo milhões.


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Pauline Lewis, fundadora da oovvoo Designs: preocupação com o bem estar dos colaboradores.


Você acredita que existem implicações maiores nesse modelo de negócios?

O que fica evidente é que o que estamos retratando como o ‘jeito normal’ de gerenciar um negócio não é o único modo de fazer isso. Diferentes pessoas com valores diversos podem administrar empresas de várias formas. Se aprendermos com eles, talvez eles possam influenciar nossas normas e regras sobre empreendedorismo.

Klein é um escritora de Los Angeles que escreve sobre empreendedorismo e pequenos negócios.

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