Parceria entre empreendimento solidário e colégio Mater et Magistra se formaliza e promete novos frutos em 2014
São oito horas da manhã. Socorro Barboza, Celia da Silva e Jeane Paulino conversam na cozinha do colégio Mater et Magistra, localizado na Zona Sul de São Paulo, enquanto se revezam nas atividades do dia. O feijão preto já está na panela de pressão e agora elas se concentram em descascar o alho e a cebola que será o tempero base do prato do dia dos funcionários do colégio: arroz, feijão, frango empanado, repolho refogado com molho de tomate e duas opções de salada. É a segunda quarta-feira de janeiro e as aulas ainda não começaram, por isso, o ritmo da cozinha é menos intenso.
Junto à Juraci da Silva, elas formam hoje o Ambrosia, empreendimento solidário assessorado pelo Consulado da Mulher, que em agosto de 2013 começou a fornecer a alimentação do colégio particular em um contrato experimental de 6 meses.
A parceria entre o grupo de economia solidária e a instituição de ensino não aconteceu por acaso. O arquiteto e coordenador da Mater, William Itokazu, quis alinhar a cozinha aos valores do colégio, que busca oferecer um modelo diferente de educação, em que o aluno não é tratado como um número e, sim, como um ser humano.
“Tinhamos a opção de terceirizar a cozinha, mas nós queríamos uma coisa próxima”, conta. “Os colégios da região trabalham com uma empresa de alimentação que vem com um carrinho e distribui as refeições. É uma indústria, fabricação em série. A gente queria carinho na comida”, explica.
Na Mater, as salas de aula são menores do que a da maioria dos colégios, assim como o número de alunos por sala também é reduzido para que haja uma relação mais próxima com os professores. “O modelo de educação de hoje de muitas escolas é igual uma empresa de alimentação como a que eu citei. Tudo muito padronizado, industrializado e feito para grandes quantidades. Por isso a gente não quis trabalhar com uma empresa de alimentação terceirizada”, conclui.
Ao todo, são preparados pouco mais de 100 almoços por dia para os alunos e funcionários das duas unidades da Mater, além do café da tarde dos estudantes que ficam na escola em período integral.
Frutos da parceria
A rotina na escola já gerou frutos para Célia, Socorro, Jeane e Dona Jura, todas mulheres com experiência na cozinha de estabelecimentos tradicionais de alimentação, como bares, restaurantes, pizzarias e padarias.
Com a renda gerada pelos almoços servidos na escola, Jeane, de 24 anos, sustenta a filha e divide as contas da casa com o marido. Uma de suas principais conquistas em 6 meses de trabalho foi a compra de um computador para a família e o quitamento de todas as suas dívidas.
Socorro, de 43 anos, que terminou há 7 meses um casamento de 15 anos, assumiu o sustento de sua casa e, trabalhando há apenas 3 meses na Mater, já conseguiu presentear um de seus filhos com um videogame.
Sua irmã Célia, de 50 anos, cozinheira principal do grupo, é vó, mãe de duas meninas, sendo uma delas especial. Ao lado do marido, ela também toma as rédeas das decisões familiares. Ela trabalha há 4 meses no empreendimento, mas com apenas 2 conseguiu reformar boa parte de sua cozinha.
Dona Jura, líder comunitária em Heliópolis e figura conhecida no meio da economia solidária, é responsável por administrar os gastos do grupo, mediando a parceria com o colégio e cuidando de todos os detalhes para que projeto continue dando certo.
“Pra nós trabalhar de forma solidária é bem melhor, porque agora temos autonomia para resolver nossos problemas aqui dentro e lá fora. Podemos sair mais cedo e nos revezar nas tarefas. Coisa que a gente não tem trabalhando para os outros”, afirma a cozinheira Célia.
Mais autonomia em 2014
“Ser mulher é você ter autonomia. É você cuidar da própria vida. Eu não gosto de dar satisfação para os outros, eu gosto de resolver minhas coisas”. A fala de Célia resume o espírito do Ambrosia para 2014. A palavra autonomia é a palavra-chave do grupo, que se formalizou em 2012 como microempresa e passará a recolher INSS a partir de janeiro.
À frente da cozinha do colégio, o desejo é o de continuar evoluindo e assumindo cada vez mais responsabilidades. Elaboração integral do cardápio, gestão de contas e planilhas e a criação de uma logomarca são algumas das metas do coletivo. E claro: aumentar a renda de cada uma das integrantes que, atualmente, têm retiradas de R$1.000 por mês.
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