“O meu trabalho representa tanta coisa! A maior delas é a liberdade. Eu venho de um tempo em que para ler caixa de sabão em pó, o meu estudo era suficiente. Hoje me sinto livre. Não estamos no tempo em que as mulheres não podiam fazer nada”
Olha o docinho aí, gente! Comida de festa junina é tudo de bom, a Antônia, da Doce Encanto Food em São Paulo, que o diga. O que começou como uma alternativa para passar pelos momentos mais difíceis da pandemia, hoje se tornou o sucesso do empreendimento. Não há quem não ame o famoso Arraiá na caixa, uma ideia que ela desenvolveu no Consulado da Mulher e que manteve as portas do negócio bem abertas.
Os clientes que há tempos não podem curtir a boa e velha festa junina amaram a iniciativa de levar para dentro de casa uma das melhores coisas da comemoração: as comidas deliciosas. E tem de tudo! Bolo, pipoca, pamonha, quentão, paçoca, maçã do amor, curau, canjica, caldo e por aí vai, tudo feito de forma artesanal. Antônia conta que o sucesso está muito atrelado à nostalgia que as comidas proporcionam. “As pessoas falam que lembra muito o tempo de criança, com as quermesses da igreja”, conta ela.
Os tamanhos são os mais variados possíveis, atendem às famílias menores e as grandes também. Tudo feito de forma personalizada e a gosto do cliente, que coloca as suas comidinhas preferidas na quantidade que desejar. “Dessa forma fica acessível para todos. A pessoa pode montar uma caixa menor com o valor menor, ou colocar mais itens e pagar mais por isso. Essa é uma preocupação que a gente sempre tem: ter um cardápio que possa atender a todos os públicos”, explica Antônia. O melhor de tudo é que a festa vai completa dentro da caixa, com enfeites juninos, paninho xadrez e não poderia faltar as famosas bandeirinhas.
Chegar ao sucesso teve um longo e difícil caminho na vida de Antônia. A empreendedora conta que o sonho de ter um negócio próprio a acompanha desde a infância, quando a brincadeira preferida era a de ser dona de restaurante. “Eu sempre gostei de cozinhar, desde criança. Eu tenho lembranças da família toda reunida, principalmente em época de festa junina, aquele monte de tia, uma descascando o milho, uma ralando, uma cozinhando, uma lavando palha, as crianças brincando e eu sempre estava no meio das tias ajudando a fazer a comida e eu gostava”, recorda-se ela.
Quando cresceu, o receio de deixar o emprego fixo para empreender era muito grande. O choque de realidade só veio mesmo quando, aos 33 anos, descobriu um câncer que a levou a três anos de tratamento intenso. “Eu pensei: se com 33 anos aconteceu isso e eu podia ter perdido tudo, não vale a pena eu ficar em uma coisa que eu não gosto por comodidade. Então agora eu vou fazer só o que eu quero”, lembra-se Antônia.
Certamente nada foi fácil. “Eu já escutei da minha família coisas como: você estudou tanto pra acabar assim fazendo bolo. Nós mulheres somos muito julgadas e é muito difícil a gente ter visibilidade, então quando você tem, tem que trazer outras junto com você. Essa sempre vai ser minha missão”, orgulha-se ela.
Em 2015, começou vendendo tortas nas portas da faculdade e depois migrou para os bolos. Com as indicações dos primeiros clientes, viu o negócio ir crescendo pouco a pouco. Hoje, com a ideia de arraial na caixa, faz o que mais ama e ainda leva festa junina com gostinho de infância para a casa dos paulistanos. Um arraiá completo, sô!
Relação com o Consulado
Em meio ao sonho de empreender, foi no ano de 2019 que Antônia conheceu o Consulado da Mulher. “Eu sempre falo que a Doce Encanto tem dois momentos: antes do Consulado e depois do Consulado”, conta a empreendedora. “Antes do Consulado, a Doce Encanto era um sonho, eu peguei a minha rescisão de trabalho de 18 anos de empresa, toda a minha força de vontade e coloquei na Doce Encanto”, explica ela. “Mas quando eu cheguei no Consulado eu estava prestes a quebrar, eu não tinha mais onde injetar capital e o negócio não fluía, por mais que o pessoal elogiasse”, completa.
Após ingressar no programa de educação empreendedora do Consulado da Mulher, Antônia conta que teve o seu primeiro momento de realidade, o despertar de um sonho que estava começando a se concretizar de verdade, onde se sentiu devidamente preparada e onde aprendeu a planejar e a mudar a história do seu empreendimento. “Eu percebi que não adiantava ficar só sonhando, precisava fazer acontecer, foi preciso um choque de realidade, arregaçar as mangas, cortar um monte de coisa e colocar para funcionar”, explica ela.
E todo esse empenho deu belos frutos! No ano de 2020, Antônia e a Doce Encanto Food ganharam o Desafio de Emancipação do Consulado da Mulher pelo maravilhoso plano de marketing que desenvolveu.
Um orgulho e tanto! Se um dia a Doce Encanto Food estava passando por dificuldades, hoje ela conta com uma preciosa ajuda. Os filhos de Antônia dão aquela forcinha no negócio da família: Lucas, o mais velho de 27 anos, gosta de fazer salgados; a Júlia, de 17 anos, está se especializando em chocolate e é o braço direito da mãe; Amanda de 23, apesar de não gostar de cozinhar, ajuda a mãe sempre que é necessário, e Lívia, a caçula de 8 anos, que ama redes sociais e tik tok, fala que é a gerente do negócio.
Se antes, Antônia estava procurando uma solução para não fechar, agora se orgulha de onde conseguiu chegar. “Eu jamais imaginei que eu ia conseguir chegar tão longe como eu cheguei e estar tão feliz como estou. Realizada é a palavra certa! Hoje eu me sinto realizada, porque eu trabalho muito, mas eu vejo os frutos”, orgulha-se ela.
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